Segundo o Aurélio, breu é uma substância semelhante ao pez negro, obtida pela evaporação parcial ou mesmo a destilação da hulha ou ainda de outras matérias orgânicas, esta substância fica líquida quando aquecida e sólida quando resfriada.
Lá para os lados do Estado do Rio de Janeiro, breu era uma espécie de bote e os tripulantes dessa pequena embarcação eram chamados também de breu.
Por aqui, até certo tempo, breu significava uma coisa muito difícil de acontecer ou ser. Lembro-me de comentários do tipo: ele lá tem coragem, tem coragem breu! Ou em outra situação se comentava: ele faz nada, faz breu que faz! Isto é, duvidando da coragem ou da capacidade do indivíduo. Quando alguém dizia: menino aqui ta escuro como breu. A essa afirmação davam-nos a entender que fazia um escuro muito grande, escuridão total, trevas absolutas, em fim, um verdadeiro breu, quero também lembrar que aqui, até bem pouco tempo, se usava a substância breu em forma líquida para vedar garrafinhas de areia colorida.
Essa palavra tão popular que a muito estava esquecida, surgiu com força total, não com o mesmo significado, porém com o mesmo tom, breu. Hoje breu é sinônimo de economia, de diversão, de algazarra, de inveja, de ira, de intriga, de santidade,...
Economia – suas mercadorias são as mais baratas da cidade;
Diversão – uma cidade como a nossa qualquer novidade é uma boa diversão;
Algazarra – em meio a tanta gritaria, piadas é o que não falta;
Inveja e ira – é o que os concorrentes sentem;
Intriga – seus concorrentes inventam para derrubá-lo;
Santidade – é o que muitos dizem pela audácia dos preços.
Se alguém perguntar onde fica o comércio de seu José Ferreira Marques, acredito que ninguém irá responder. Porém se perguntar onde fica o comércio de seu breu a resposta estará na ponta da língua. Este cidadão grossense, no auge dos seus sessenta anos, com seu pequeno comércio, começou a fazer história a partir do momento que resolveu vender mercadorias mais barato que todo mundo por aqui. Porém tem um detalhe, a venda é aberta somente à noite, o que nos deixa com uma pergunta intrigante; breu só vende a noite porque é breu ou é breu porque só vende a noite? Es a questão. Mas o certo é que a fama de seu breu já esta tão divulgada que alguns já estão indo esperá-lo na entrada da cidade, e ao passar com sua caravana amarrotada de mercadorias vindas de Mossoró, as pessoas gritam, gesticulam, fazem a maior festa.
- breu! breu! breu!...
Têm alguns que já o chamam de Supermercado Breu, outros chamam de Hiper Breu, e ainda outros um pouco mais eufórico o chamam simplesmente de São Breu. São Breu ou não, o fato é que este esta tão famoso que ao passar pelas ruas da cidade, todos o cumprimentam, como se fosse um político, se bem que não é qualquer político que tem seu carisma, eu conheço alguns que se comparado com seu breu, perderia feio, aliás, ganharia breu.
Bom, o comércio de seu breu esta indo de vento em popa, tem gente vindo da cidade vizinha, Areia Branca, só para comprar a seu breu, os comerciantes da cidade já estão de orelhas em pé, dizem os ventos, que já denunciaram seu breu, motivo: vender muito barato. A polícia, mesmo sabendo que nada podia fazer - pois se alguém tem algo para vender, este deve vender pelo preço que lhe convém, cabe ao comprador decidir se compra ou não - esta chegou, verificou e constatou que se ele quisesse dar a mercadoria de graça ainda assim não poderia fazer nada, a não ser, lógico, indicá-lo a um hospício, o que não era o caso.
Aproximadamente às 10h00min horas da noite começa o fuzuê, taí outra palavra do tempo de breu, mas como dizia, a essas alturas a frente do comercio de seu breu, já esta tomado pela população, é tanta gente que precisa-se organizar fila, é gente de todo lugar da cidade, alguns um pouco tímidos, de classe média, com vergonha, mas se tratando de economia, vale tudo, ate mesmo pegar a fila de seu breu.
A feira se arrasta por toda a noite, enquanto há mercadoria, há gente, há tumulto, a algazarra, piadas, enfim, há alegria. Em meio ao tumulto, seu breu abre um pacote de bolacha e distribui com seus clientes, ao terminar a feira de uma pessoa, seu breu carinhosamente, agradece dizendo:
- vá pra casa com Deus e quando vier outra vez, traga-o de volta.
- amem! O cliente responde.
Você que leu essa crônica, caso queira visitar o comércio de seu breu, ele fica no bairro Boa Esperança, mais conhecido, bem mais conhecido como Ticaca, na rua projetada e escrito na parede do seu comércio há um letreiro bem típico e inconfundível:
- COMERCIAL GRAÇAS A DEUS.
Se quiser comprovar, vá lá e Boa sorte nas compras!
Termino com o seguinte questionamento, será que tem alguém que venda mais barato que seu breu? Sinceramente acredito que não, Isto é:
- tem breu que tem!
kkk, valeu professor Ronaldo, eu lembro desse acontecido, você descreveu muito bem. Parabens.
ResponderExcluirHoje estou morando em Mossoró, lembra de mim, estudei no Cel. Solon
e 2005
Muito boa essa história, ilariante, valeu vc é um belo escritor.
ResponderExcluirPensei que não tinha postado essa!
ResponderExcluirMuito engraçado ess crônica, quem não lembra dessa história vai se divertir muito quando ler pela primeira vez e nunca mais vai esquecer o BREU!!!