quinta-feira, 28 de julho de 2011

A CONTROVERTIDA FIGURA DE STALIN!



Por Antonio Renato, professor de história da E. E. “Cel. Solon”

Ele nasceu Joseph Vissarionovich Djugashvili, em 1879, na Geórgia (Rússia). Depois, em 1912 adotou o nome de Joseph Stalin (homem de aço). Poucos personagens são tão odiados pela história oficial dos tais livros didáticos. Do ponto de vista desse pessoal e dos meios de comunicação, de parte expressiva da intelectualidade, do mundo político, dos mais conservadores a extrema esquerda, é uma unanimidade negativa. O próprio Hitler, atualmente, possui seguidores que defendem sua obra e isso inclusive é noticiado. No entanto, não se vê alguém que defenda publicamente o papel histórico de Stalin. A esquerda, na sua maioria, foge de qualquer vínculo com o seu legado como o coisa ruim foge da cruz. O que esse contemporâneo de LENIN fez de tão nocivo na historia ao ponto de sofrer tamanha execração.
Primeiro para os menos informados, vamos localizar essa figura historicamente. Como já disse Stalin foi contemporâneo de V. Lenin, grande artífice da revolução russa. Os dois, junto com Trotski, são os principais nomes desse importante episódio do século XX. Com a morte de Lenin, em 1923, os dois, Stalin e Trotski, com sua teoria da revolução permanente,  tendo visões diferentes sobre o futuro da revolução, dão inicio a um embate ideológico, que os colocam em lados opostos e que no futuro vai dar base para formação de pensamentos diametralmente opostos no campo da esquerda. Os trotikistas vão eleger Stalin como uma espécie de Geni da famosa musica de Chico Buarque. Resultado: Stalin, com sua idéia de consolidar o socialismo na então URSS, vence o embate e dá inicio, por meio de planos qüinqüenais, a construção de um País, que de características políticas e econômicas semi-feudais no inicio do século XX, transforma-se num Estado com uma forte indústria de base e que vai rivalizar de igual para igual com os EUA, tendo inclusive sido o pioneiro na corrida espacial. Contudo, esse não foi o maior feito da URSS; com STALIN à frente, esse povo eslavo foi o principal responsável pela  ...



derrota da maior maquina de guerra até então organizada, o exercito nazista na segunda guerra; foram os soviéticos, que depois de uma das batalhas mais famosas da historia, a batalha de Stalingrado, acabou com o mito da invencibilidade nazista e a partir daí deu inicio a contra-ofensiva das forças aliadas. Foi o exercito vermelho o primeiro a entrar em território alemão. Ficou famosa a imagem do soldado soviético erguendo a bandeira com a foice e o martelo no alto do parlamento em Berlim. A URSS foi o país que mais vidas perdeu na 2ª guerra. Fato que aliás, é pouco divulgado.
Então, qual a razão do ódio declarado e quase unânime a Stalin. Vamos começar pelo mais simples. Muitos o chamam de ditador; de fato foi. Mas não vou aqui buscar, pra defesa de Stalin, passagens da obra do velho Marx, que diz que o Estado desde quando foi criado se constitui numa ditadura a favor da classe que o dirige e nem, por conseguinte, no conceito de ditadura do proletariado. Por que então, Julio Cesar, Otavio Augusto na Roma antiga, Lord Cromwel na Inglaterra e Napoleão na França, (figuras históricas de grande importância), não sofrem o mesmo tratamento? Ou esses não foram ditadores? Ao contrário, são exaltados pela historiografia oficial como construtores da civilização ocidental. Recai também sobre Stalin a acusação de buscar o poder pessoal e pra isso ter promovido a eliminação dos adversários; difícil é encontrar um personagem na história que em circunstâncias de disputa do poder, de fazer valer um pensamento, um projeto nacional, que era a conjuntura da Rússia na época, não tenha procurado de alguma forma descartar seus oponentes. Durante a revolução francesa, mais especificamente na chamada fase do terror, Robispierre, o incorruptível, mandou  Danton a guilhotina; americanos mataram co-patriotas na guerra de secessão, entre norte e sul, quando o norte impôs duras condições ao sul derrotado; o conflito entre Marco Antonio e Otavio, com vitoria deste ultimo que o levou ao poder pessoal e marcou o inicio do império. Quando um povo se encontra num impasse, entre dois projetos de nação, um precisa se impor, pra que a história siga seu curso. E ninguém pode negar que Stalin teve um projeto para a grande nação eslava, dentro da tradição russa de poder autocrático. E pra encerrar esse assunto, não esperem encontrar troca de gentilezas na história da humanidade. 
Contudo, isso não é suficiente pra redimir a figura de Stalin; e também não tenho essa pretensão ( apenas tenho um lado). A questão não é tão simples. De um lado até que é fácil entender. Pra quem conhece minimamente a história do pensamento humano, não é  de se estranhar que os arautos do liberalismo político tratem a figura de Stalin dessa forma. Dentro da estratégia de sempre confundir, elaboram explicações simplistas, descartam realidades e contextos históricos, com um objetivo claro: decretar a vitoria do capitalismo e o fim da historia. Essa é a questão. E nessa tarefa, a extrema esquerda, talvez por infantilidade ou então por que querem “fazer as mudanças” sem respeitar a história, mais uma vez anda muito próximo da extrema direita. Associam o período stalinista ao “modelo de socialismo” e não a “um modelo de socialismo”, que existiu em determinado contexto histórico, marcado pela primazia da URSS, que surgiu depois da revolução de 1917 e que obedeceu a uma conjuntura que agora passo a expor.
 Desde o início, a Rússia (depois URSS) foi induzida ao isolamento. Já nos primeiros anos pós-revolução o jovem Estado dos sovietes  teve que se proteger dos inimigos externos e internos, quando Lenin aplicou o chamado “comunismo de guerra”(1918-1921). Na década de 20 então, o quadro político internacional se desenhava da seguinte forma: as mais importantes nações, a exceção da França e da Inglaterra, caminhavam para regimes totalitários, sendo os casos mais exemplares, a Itália fascista e a  Alemanha nazista, regimes fortemente anti-comunista, tendo na URSS seu alvo principal. Nos países citados, as tentativas de revolução de caráter socialista haviam sido abortadas, caso, por exemplo, da revolta espartaquista na Alemanha. Na década seguinte, o plano pra destruir o primeiro Estado socialista dava os seus primeiros passos. Hitler, já como chefe do Estado Alemão (chegando ao poder pela via direta, diga-se de passagem), armava sua maquina de guerra, desrespeitando as resoluções do tratado de Versalhes (que encerrou a 1ª guerra), avançando sobre o leste europeu; Áustria e Tchecoslováquia já haviam sucumbido a expansão nazista. Tudo isso sob as vistas dos Estados liberais-democráticos, Inglaterra e frança, que na chamada “política de apaziguamento” empurravam a Alemanha nazista rumo as fronteiras da URSS.  Não contavam, contudo, com o gênio militar do grande dirigente soviético, que percebendo a momentânea superioridade nazista, construiu um acordo com Hitler, o famoso acordo de não-agressão, de 1939, pelo qual os dois dirigentes sacrificavam a polônia. Stalin, pela via da diplomacia, estancava o expansionismo germânico em direção ao leste europeu. O resto da história o mundo já conhece.  O outrora Estado semi-feudal, motivo do achincalhe por parte das outras nações na 1ª guerra, sai da 2ª guerra dividindo as influências nas relações internacionais que então se esboçavam, junto com os Estados unidos. Começava os tempos da chamada “guerra fria”.
 A URSS após o desaparecimento físico de Stalin se degenerou e caminhou para o seu esfacelamento no final da década de 90. E muitos apressadinhos atribuem tal episódio a Stalin. Não citam, nem de longe a seqüência de dirigentes inexpressivos que conduziram a União Soviética pós- Stalin, a começar por Nikita Krushov, e que de fato levaram esse pais a bancarrota. Também não citam o sentimento de pavor que tomou conta do povo russo diante do golpe que derrubou os aliados de Stalin e conduziu esse arrivista ao poder. No entanto o que é particular na figura de Stalin é o que já foi dito no início: a disposição tanto da direita, como de parte da esquerda de desconsiderar seu importante papel histórico. Parece uma verdadeira cruzada. É um círculo muito amplo, que une sem nenhum pudor desde liberais democratas até trotskistas enraivecidos. Estes então, cheios de empáfia se julgam o próprio “oráculo de delfos” quando o assunto é socialismo. No afã de isolar a figura de Stalin, patrocinam uma tentativa desesperadora de colocar num mesmo patamar seu ícone, Leon Trotski, e o grande líder da revolução russa V. Lenin. Falam em fraude histórica, mas escondem que em pleno processo da revolução de 1917, o mesmo Leon Trotski, opondo-se a Lenin, defendia a permanência da Rússia na 1ª guerra. Nessa hora não posso deixar de fazer referência as escrituras sagradas: são sepulcros caiados. O velho Stalin nunca teve descanso com esse povo. Mesmo no exílio, o homem não lhe dava sossego. O resultado todos já sabem: a famosa picaretada do espanhol Ramon Mercarder, no México. Era o ano de 1940.
 Treze anos depois era a vez do homem de aço entrar pra historia e pra  muitos se tornou sinônimo de burocratização do Estado, culto a personalidade e  de tudo que é avesso ao ideal socialista. São os que querem fazer história de acordo com suas vontades. Pra uma minoria, na qual me incluo, Stalin deve ser analisado sob a ótica das condições históricas aqui expostas, das relações internacionais que predominavam na sua época e que não se furtou de uma enorme tarefa nacional que o faz no mínimo uma personagem controvertida.  

2 comentários:

  1. Antonio Renato, Professor de Historia29 de julho de 2011 às 20:14

    Colega Patricio,
    Seu comentário mostra domínio da questão; o que pra mim não é surpresa, pois fui seu colega de profissão e sei de sua capacidade intelectual; e mesmo em campos ideológicos opostos, ter sua contribuição é uma honra. Contudo, sem querer me alongar muito(já tomei muito espaço no blog)gostaria de comentar algumas questões por você colocadas: dizer que Stalin foi um democrata(aí temos que ver também a concepção de democracia,tipicamente burguesa, surgida do liberalismo político)seria uma insanidade, falta de honestidade;foi um ditador mesmo. Na sua época, somado as características históricas da russia, não tinha como não ser. É o tipo da coisa: "a história somos nós que fazemos,mas não do jeito que queremos"; Napoleão levou os valores iluministas ao resto da europa absolutista e feudal como imperador, derrubando as dinastias reinantes. ademais, o velho Marx, acenou com a revolução nos paises capitalistas mais avançados, e nenhum com as características semi-feudais da Russia; quanto a comparação com o golpe que fez surgir nossa republica, mesmo esse deve ser encarado como um avanço civilizatório, assim como a própria abolição dos escravos. Sobre o fato da história ser escritas pelos vencedores, nada mais normal; por isso devemos atuar para que o processo histórico avance sempre, que não haja retrocessos. A historia não nos perdoa.E aí que esta a responsabilidade dos partidos de esquerda. O dever primeiro do bom revolucionário é criar condições de fazer uma leitura acertada de determinada conjuntura histórica. E sobre os nossos "mui amigos" anarquistas e trotskistas, além do que já disse, devo dizer o seguinte:os primeiros querem um mundo sem Estado, sem governo, como se a vontade deles fosse o suficiente pra isso; quanto aos últimos dizem que no Brasil são hoje "os principais quadros do pais"(dentro do PT). Vai ver é por isso que o governo carece de mais nacionalismo econômico(não dão muito valor a isso) e na época de Stalin apenas perderam a contenda e tiveram o devido tratamento.

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  2. Qualquer contribuição contra as regalias burguesas,é de suma importância;haja visto, a forma como o sistema capitalista tratou, trata e tratará o proletariado em todos os momentos da história da humanidade.Stalin,Lenin,Marx, foram homens que sempre contribuiram para as conquistas da classe operária. Essa contribuição, não limita-se apenas ao eixo URSS, Europa Oriental, mas também em outras partes do globo; dentre elas:África,América Latina, Sudeste Asiático. Resumindo, em quaquer lugar da Terra onde houver uma organização trabalhista; lembre-se- ali está a ideologia do proletariado, tão bem defendida por esses gigantes, que tiveram coragem de mostrar suas caras em prol de uma causa justa: a defesa dos direitos trabalhistas e a igualitariedade social.

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