Tínhamos e temos a exata noção dos limites que marcaram o governo lula. A necessidade de conduzir o governo mantendo certos componentes da política econômica neoliberal, como por exemplo, a independência considerável que teve o Banco Central, mantendo a política dos juros altos, além do superávit primário. Mesmo assim, certos elementos do pensamento desenvolvimentista foram estimulados durante o seu governo, principalmente no segundo mandato, casos dos aumentos reais no salário mínimo, que estimulou o consumo e a atividade produtiva, e a idéia do planejamento, do incremento a infra-estruturar, refletidas na implantação do PAC, somado a uma melhor distribuição da renda, através das tais políticas compensatórias, como o bolsa família, que aumentou o poder de consumo dos mais pobres. Todo isso, demonstra que ao contrário do que alguns dizem a política econômica do governo lula não foi exatamente à mesma do período deletério de FHC, mesmo com a manutenção daqueles componentes inicialmente citados, e que o governo lula, além de exitoso no geral, foi uma espécie de transição na perspectiva de um período posterior marcado por verdadeiras rupturas.
Essas particularidades do governo lula levou inclusive certos segmentos da esquerda, erroneamente, a abraçar e estabelecer como verdades absolutas alguns dogmas da política neoliberal, como por exemplo “o controle das contas públicas” e outros aqui já mencionados, postura cujo maior expoente foi o sinistro Sr. Paloci.
Pois bem, eis que logo nos primeiros dias esse espectro ronda o governo Dilma, através das declarações do ministro da fazenda, o Sr. Guido Mântega(que dizem ser um desenvolvimentista), quando afirma que o governo vetará qualquer iniciativa do congresso que leve a um aumento do salário mínimo acima de 540,00. O velho argumento é o mesmo dos tristes tempos de FHC, ou seja, um valor maior que esse “explodiria” as contas da previdência. Não vou aqui me deter no aumento que os próprios parlamentares se deram; tal episódio é tão fora de propósito, absurdo, desumano, além de imoral, que não merece que gastemos nossa energia física e mental com tamanha monstruosidade, embora por se só já servisse como pretexto para um reajuste maior do salário mínimo. Quero me deter e advertir que, as ameaças que cercam o governo Dilma começam a dar as caras. A parcela nebulosa, incrustada no governo, que pretende enquadrá-lo, não perdeu tempo. Derrotado nas urnas, o pensamento neoliberal quer se fazer dominante no núcleo do governo, impedindo as verdadeiras reformas, historicamente necessárias, abortadas pelos militares com o golpe militar de 64. Todos sabem, e a crise de 2008 comprovou isso, que um pais só tem crescimento econômico quando a sua parcela mais pobre passa a consumir, o que leva ao aumento da atividade industrial, que por sua vez estimula a produção e conseqüentemente ao aumento dos postos de trabalho; e o salário mínimo é o instrumento principal, além de outros, para atingir o tal “circulo virtuoso”, ou seja, crescimento com distribuição de renda.
È preciso que os menos avisados saibam que o que esta acontecendo, desde tempos do governo lula, é o acirramento de um debate de caráter histórico, que remonta e tem suas raízes no século XIX, entrou pelo século XX e teve seus momentos mais aguçados por ocasião do governo nacionalista e estruturante de Vargas, o desenvolvimentismo Juscelinista e o reformista e inconcluso governo Jango, derrubado pelos militares e golpistas da UDN. É o debate entre nacionalistas desenvolvimentistas, de varias matizes e que pretendem um Brasil desenvolvido de forma soberana e independente, e o pensamento entreguista e monetarista, do capital especulativo e improdutivo, de mentalidade colonizada. Como o processo histórico, social e político as vezes não é algo de fácil compreensão, é preciso esclarecer que um governo, mesmo de esquerda, ou melhor, de centro-esquerda, como o atual, e em função da questão da governabilidade e da necessária continuidade do mesmo, o governo Dilma tem que conviver com tal situação, qual seja, a heterogeneidade das forças que o apoiam. O que precisa é que o povo, através dos seus movimentos organizados, faça desse governo o seu governo. O governo Dilma não pode e não deve ficar no simples campo do “institucional”. Como ela mesma disse seu governo não vai ser só uma continuidade do governo lula; ele deve ir mais além, isto é, deve avançar, e para isso, certamente vai chegar o momento, mais cedo ou mais tarde, que o povo vai precisar sustentá-lo frente aos seculares interesses que certamente vão fazer uso de seus instrumentos golpistas.
Por Antonio Renato – Professor de Historia da Escola Cel. Sólon.
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