segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Riquezas que poucos vêem



Você sabia que aqui em Grossos tem gente que passa fome?
Se não sabia caro leitor, fique sabendo que tem, e como tem. Outro dia conversando com um colega, ele falou que a família de “fulano de tal” – não devemos expor o nome – estava passando muita fome. Não tinha nada pra comer ou estava comendo piricau no café da manhã, farinha com rapadura no almoço e enganando a barriga na janta com garapa de açúcar e resto de bolacha seca.
Bom, a primeira conclusão que temos é que essa família de fome não vai morrer nunca e se tiver que morre vai ser de diabete, segundo, passar fome aqui em Grossos é sinônimo de preguiça, ou, sendo um pouco menos rigoroso, indisposição, que é a mesma coisa ou ainda, em última hipótese, no mínimo falta de vontade de viver.
Sei que falar isso parece ser cruel, mas convenhamos, com tantas riquezas naturais na nossa terrinha, parece hipocrisia alguém passar fome aqui.
Como passar fome com um rio com tantos peixes.
Talvez você diga: "há, mas não tenho rede pra pescar". Hora pra tirar daqui seu almoço todos os dias, não precisa de rede, basta uma linha e em poucos minutos você faz seu almoço e se tiver um pouco de paciência, pega um pouco mais para vender ou trocar por feijão ou coisa do gênero. Além do mais você pode arrendar uma rede, isto é, pega uma rede emprestada e dividir com o dono o pescado, essa troca de favores é muito comum por aqui.

"Há ta faltando à isca, como conseguir camarão para fazer a isca?" Bem aqui em frente a minha casa tem cercos, onde as pessoas – na falta de uma tarrafa – ficam de joelhos e pegam camarão com as mãos, é verdade, pode acreditar, com as mãos e não é pouco não, eles pegam pra vender onde um quilo varia de 5,00 a 8,00 reais.
Mas talvez você diga: "não sei pegar camarão com as mãos, é muito arriscado, posso pegar um anequim e aí já viu, a dor é grande". Então vá atrás de caranguejos, estes são vendidos a 1,00 real nas praias do ceará.
"Tem muita lama, não gosto, tenho medo de meter a mão no buraco". Então faça um jereré e vá pegar siri nas praias de Pernambuquinho pra vender a 0,50 centavos a unidade.
"Tenho medo, pode ser que eu pise em um e já viu né". Então não tem problema, vá tirar sururu no rio pra vender, um prato custa entre 2,oo a 4,00 reais. "Não, da muito trabalho, entrar naquela lama toda". Então vá tirar taioba, não tem lama nenhuma e um quilo custa entre 5,00 a 6,00 reais, aqui se tem aos montes.
"É muito demorado juntar um por um, tem que ter uma carroça, viche é muito trabalho".
Bom, então vá, vá ... comer piricau e morre de diabete comendo rapadura com farinha e garapa de açúcar com bolacha de cinco dias atrás, agora cá pra nós, quando acabar a rapadura, a farinha, o café para o piricau, o açúcar pra fazer garapa e a bolacha, como vão conseguir mais? Com tantas opções de conseguir dinheiro vão pedir é?
Bem, se não tiver nenhuma disposição para fazer nada disso, peça pelo menos um coco seco ao seu vizinho e coma com rapadura, é melhor que rapadura com farinha, além de ser uma delicia, é mais nutritivo. O ruim é se seu visinho mandar você subir no coqueiro, com essa “disposição” toda, duvido muito que suba.
O pior de tudo isso, é que as pessoas que mais descobrem essas riquezas são pessoas que não são da terrinha, são justamente pessoas de outras cidades que fugindo do sertão bravo, onde a caça e desmatamento quase estão instintos, vêem Grossos como um paraíso natural de oportunidades e principalmente de sobrevivência.

3 comentários:

  1. Muito bem professor, e tem mais, tem gente que prefere pedir que trabalhar.

    ResponderExcluir
  2. É verdade, numa cidade farta de riquezas naturais, como é a nossa, não deveria existir pessoas com dificuldades pra se alimentar. Mas o que você relatou é a mais pura verdade, o problema é a "Preguiça" mesmo, não vejo outra explicação.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pelo comentário, colega Apolo, quando tiver algo pra publicar, mande-me que terei prazer em faze-lo.

    ResponderExcluir