terça-feira, 23 de agosto de 2011

O ESPECTRO DE VARGAS RONDA A POLITICA NACIONAL

Texto de Antonio Renato - Professor de História da E. E. Cel. Solon.
A história do Brasil é repleta de personagens importantes, do ponto de vista dos interesses nacionais. Todos, de acordo com a realidade do seu tempo, deram a sua contribuição na formação do Estado brasileiro. José Bonifácio, nos primeiros tempos da independência, com sua visão futurista de interiorização do país, com a idéia da construção da capital no interior, a intenção de emancipar os escravos; Rui Barbosa e sua política malograda de construir a industrialização da república recém proclamada; sem falar do nosso Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, desprestigiado durante o império, mas que com a república foi justamente alçado a condição de herói nacional. Contudo, um em especial, legou as futuras gerações, a base do nosso projeto de nação, ainda inconcluso. Chama-se Getúlio Vargas, cujo suicídio, épico e didático, hoje completa 57 anos.

Imaginem o Brasil sem uma Petrobrás, sem um BNDES, sem as siderúrgicas, hoje privatizadas, sem as leis trabalhistas (CLT), sem a instituição do concurso público, sem uma Eletrobrás, os primeiros partidos de caráter nacional. Pois tudo isso, a infra-estrutura do país, é produto da chamada era Vargas. Não é à toa que o sociólogo cosmopolita, o homem que é bajulado pela academia venal e colonizada, homenageado pela Sobborne, ele mesmo, o coisa ruim, FHC, que por uma desatenção do destino tornou-se nosso presidente, decretou como principal medida do seu nefasto governo que se iniciava, acabar com a era Vargas. Não conseguiu; não obstante, todo seu empenho.


Sua obra o torna um divisor de águas na historia do Brasil. É o Brasil antes e depois de Vargas. E por isso, e pelo tamanho da mesma, os nossos Silvérios dos Reis (o homem que traiu Tiradentes) e os interesses estrangeiros, instalados no país, até hoje não lhe dão descanso, atingindo por conseqüência os que tentaram e tentam continuá-la e concluí-la. Incompreendido por um arremedo de esquerda que arrota arrogância, incapaz de compreender a heterogeneidade do seu primeiro governo (Felinto Muller) e a conjuntura internacional daquele momento, quando flertou com a Alemanha nazista (deportação de Olga Benário), mas acabou entrando na 2ª guerra ao lado dos aliados, foi atacado sem dó e chamado de ditador inescrupuloso. Certamente essa gente gostaria que o país voltasse para as mãos dos cafeicultores de São Paulo, saudosos da política do café com leite, pondo a perder toda a engenharia política, que foi a revolução de 30, comandada por Vargas. Aliás, esse estado nutre um ódio por Vargas que não passa nunca; a esse ódio se soma uma total falta de consideração pela figura do ex-presidente; não se vê em São Paulo, uma homenagem a Vargas, um nome de rua que seja. Muito disso se deve a esse episódio, a revolução de 30, que acabou com a hegemonia paulista na política nacional, como também a malograda tentativa de retomá-lo, a revolta de 32, prontamente sufocada por Vargas. Mas justiça seja feita, é a direita, que no fluxo da história nunca viu futuro num Brasil soberano, que não lhe dá trégua; a contemporânea e a do seu tempo. Essa liderada pelo maior inimigo em vida que Vargas teve: o jornalista e político da UDN, partido da direita reacionária, Carlos Lacerda, cognominado o corvo. Nacionalistas, comunistas, o pensamento progressista em geral e por extensão os interesses nacionais reconhecem: nunca tivemos um adversário tão sagaz, implacável, competente e contumaz. Às vésperas das eleições de 1950, vencidas por Vargas, afirmou: “Vargas não pode ser candidato; se candidato não pode ganhar; se ganhar não pode assumir; e se assumir não pode terminar o mandato”. Essa hipótese última veio a se confirmar, como todos sabem. Era um golpista assumido. Conspirou contra outros presidentes. Toda encenação, resultante do famoso atentado da rua Toneleros, em 1954, desembocou numa enorme crise política, cujo desfecho foi o suicídio do presidente. Gênio político por gênio político, Vargas também não ficava atrás. Seu suicídio virou o jogo, o qual Lacerda com o seu Jornal e seus discursos inflamados construíra a seu favor. No dia seguinte ao suicídio, seu jornal e de toda imprensa golpista (O globo, Tribuna da Imprensa), eram ameaçados de depredação pela população. Vargas, com seu sacrifício, adiava por dez anos um golpe que o mesmo Lacerda ia ser um dos protagonistas e que afundou o país num regime de exceção. 

Vargas deixou seu herdeiro político, João Goulart, o Jango, e advertiu: a ira desse povo vai recair sobre você. Ele tinha a exata noção dos poderosos interesses que sua obra ousou enfrentar. Na sua “carta testamento” deixou isso bem claro. Essa, aliás, constitui-se no documento primeiro do nosso nacionalismo. Verdadeiro chamamento em favor da causa nacional. Seu conteúdo é uma verdadeira denúncia contra os que sempre vilipendiaram a nação, e sua conclusão emociona qualquer brasileiro com um mínimo de senso patriótico: ”E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

Vargas estava certo e Jango foi impedido de terminar seu mandato, derrubado pelo golpe militar, numa aliança de políticos civis como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, governadores do antigo estado da Guanabara e de Minas Gerais, respectivamente, e forças armadas. Seu governo na verdade, desde o inicio, foi conturbado, pois como vice-presidente de Jânio Quadros, que havia renunciado, deveria assumir normalmente, como mandava a Constituição do Brasil. Porém, nesse momento, as forças  que levaram Vargas ao suicídio, mais uma vez entram em cena, tentando rasgar a Constituição. Era o ano de 1961. É nessa conjuntura de instabilidade política que surge um jovem governador gaúcho que com a morte de Jango, anos depois, já no exílio se tornaria a referência do chamado trabalhismo nacionalista e herdeiro político do projeto iniciado por Vargas: Leonel de Moura Brizola. Na condição de governador do Rio Grande do Sul, Brizola liderou uma campanha pelo cumprimento da Constituição, a chamada campanha da legalidade. Contando com o apoio de militares legalistas, armou a população e disse: “o primeiro tiro jamais partirá da gente, mas o segundo com certeza”. Instalou-se um clima de guerra civil no país e nessas condições foi criado um acordo que permitiu a posse de Jango.

Como disse no início, Vargas não conclui sua obra. Fez valer seu ideário nacionalista da forma que o curso da história permitiu. Tentou fazer uma reforma agrária. Não conseguiu. Sua obra deu origem ao chamado trabalhismo, e que a partir da década de 80, tomou um viés mais popular e de esquerda, tendo a frente Leonel Brizola e intelectuais como Darcy Ribeiro. O primeiro identificava, com razão, a causa do nosso subdesenvolvimento nas chamadas “perdas internacionais”, que traduzindo se refere a ação predatória das potências estrangeiras que impede nossa completa soberania, enquanto que o segundo deu especial atenção à educação, idealizando e implantando, junto com Brizola, os famosos CIEPS, no Rio de Janeiro, que eram escolas de tempo integral para as crianças. Muitos consideram o trabalhismo uma via brasileira para o socialismo; o chamado socialismo moreno. Ademais, como se pode notar, outras correntes dentro da própria esquerda não abraçavam o varguismo-brizolismo, particularmente o sindicalismo surgido das greves do final da década de 70, que está na base da formação do PT, e que passaram a hegemonizar a esquerda política, tornando-se a opção eleitoralmente mais viável para chegar ao governo, o que aconteceu em 2002. Contudo, seu legado, melhorado que foi pelo brizolismo se impõe e deve ser levado adiante pelos que pensam um Brasil verdadeiramente independente.


2 comentários:

  1. Francisca S Silva (ttta)24 de agosto de 2011 às 11:42

    Fica difício fazer qualquer comentário dessa incrível explanação do Prof. Antonio Renato, sobre o ex-Presidente Getúlio Vargas, (ou Era Vargas).Assim mesmo vou acrescentar que, não só no Brasil,mas em todo mundo, não existe pessoas (políticos), com o perfil e idoneidade desse valente brasileiro.Sua determinação, seu sacrifício não foi em vão, pois ficou um grande legado a todos os homens de bem que aspiram um Brasil melhor...

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  2. Com tudo isso,foi o programa real quem deu estabilidade ao Pais,criado por FHC.E seguido por lula e, será tambem por Dilma.(E OLHE QUE JÁ CAIRAM 5 MINISTROS.PORQUE? HEM?)

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